06 dezembro 2017

Resenha #125 - Memórias de uma Gueixa


"Memórias de uma Gueixa" é um romance fascinante, para ser lido de várias maneiras: como um mergulho na tradicional cultura japonesa, ou um romance sobre a sexualidade, e ainda, como uma descrição minuciosa da alma de uma mulher já apresentada por um homem. 
Seu relato tem início numa vila pobre de pescadores, em 1929, onde a menina de nove anos é tirada de casa e vendida como escrava. Pouco a pouco, vamos acompanhar sua transformação pelas artes da dança e da música, do vestuário e da maquilagem; e a educação para detalhes como a maneira de servir saquê revelando apenas um ponto do lado interno do pulso - armas e mais armas para as batalhas pela atenção dos homens. Mas a Segunda Guerra Mundial força o fechamento das casas de gueixas e Sayuri vê-se forçada a se reinventar em outros termos, em outras paisagens.
Eu fui com muita sede ao pote, é verdade. A minha sorte era que o pote estava cheio. 

Eu gosto de cultura japonesa, mas nunca busquei ler, pesquisar, conhecer mais sobre a Terra do Sol Nascente, até encontrar Memórias de uma Gueixa. Eu sempre achei a figura da Gueixa muito encantadora. Elas se esforçam muito para parecerem encantadoras, então é fácil ficar encantado. Mas eu não mergulhei em um mundo que eu achei que seria belo. Mergulhei em um mundo denso, onde meninas são vendidas, onde o ódio está acima de tudo e monstros parecem belas criaturas.
"Fiquei imaginando se os homens ficavam tão cegos pela beleza que se sentiriam privilegiados vivendo suas vidas com um verdadeiro demônio, desde que fosse um lindo demônio." Pág. 239
Eu fiquei em choque ao descobrir que o livro era uma ficção, porque ele é tão bem escrito que você sente como se tivesse a seu lado, narrando uma história, uma velha gueixa de Kyoto. 
O livro vai contar a história de Chiyo, nascida em uma pequena vila de pescadores, é vendida para um oukia de Gion, em Kyoto, para se tornar Gueixa. Logo em seus primeiros minutos nesse novo local, ela começa a ser aterrorizada por Hatsumomo, a única gueixa do lugar no momento. Hatsumomo fica linda e encantadora com toda sua maquilagem e quimono de Gueixa, linda, mas sua personalidade é monstruosa.
"Uma vida errada não poderia transformar a gente em uma pessoa má?" Pág. 103
Chiyo, depois de aprontar muito e quase se tornar uma criada, começa seus estudos e se torna uma Gueixa aprendiz, irmã mais nova de Mameha, a figura mais doce e encantadora de todo o livro, e muda seu nome para Sayuri. 
Que lindo, né? A menina vindo de uma vila pequena consegue conquistar algo tão lindo. Pois é. E eis que começam a leiloar seu mizuage (sua virgindade). Esse acontecimento é um dos marcos do livro, tanto pelo que representa tanto porque a família do oukia a adota, interessada somente no dinheiro que a menina poderia lhes ganhar. Isso mesmo. Isso acontece quando ela tem 16 anos. O bizarro é que, no contexto do livro, existem homens dispostos a pagar muito dinheiro por isso. Eles são como que colecionadores de mizuage. Você não leu errado. Eles colecionam virgindades. Homens de 40 anos tiram a virgindade de meninas de 16. 
Quando completa 18 anos, Sayuri se torna uma Gueixa de verdade. Seu penteado muda, suas roupas mudam. Muita coisa muda.
Entre uma coisa e outra, podemos ir conhecendo um pouco da pessoa por trás da Gueixa e alguns dos homens que ela entretem em casas de chá. Acho que sentirei falta de ler sobre Nobu e o Presidente. 
É um livro bastante intenso que fala, inclusive, sobre a Segunda Guerra e como ela afetou a todos e transformou belas moças em operárias. Mostra a fome, a pobreza e o medo da morte. Não foi fácil pra mim ler nada disso, mas acho importante conhecermos a história para que ela não se repita. 
O final me surpreendeu. Eu não esperava aquele final, embora tenha sido fofo. Eu queria saber mais, queria sentar e conversar com Sayuri e pedir que ela me contasse tudo sobre as incríveis Gueixas que ela conheceu, sobre os lugares que visitou e as peças que apresentou. Encantador.
Quando chega no final e tem um aviso do autor falando que aquilo tudo é uma ficção você fica descrente, até porque no início ele fala que vai contar a história de uma amiga que ele conheceu nos EUA e era uma Gueixa em Kyoto. Eu me senti enganada.
É um livro maravilhoso em muitos patamares que eu nem sei explicar. A delicadeza dele e ao mesmo tempo sua realidade são espantosas. Eu não sei se ainda hoje existem gueixas no Japão e se realmente era assim que funcionava, mas é uma história maravilhosa e emocionante que vale muito a pena ser lida. Eu me encontro dividida entre a vontade de guardar o livro pra sempre comigo pra poder reler ou liberar ele para o mundo, entendem?
Se você já leu esse livro, conte pra mim o que você achou dele e me conta também se ficou com vontade de ler agora que eu falei dele. Eu recomendo muito.
Sobre a edição do livro. Eu não gosto muito da minha somente por um detalhe: As folhas são brancas e cansam mais a vista. Eu amo essa capa, que eu acho que é a perfeita representação da Sayuri com seus tão característicos olhos acinzentados. E a figura da Gueixa com pele extremamente clara, boca vermelha e olhos delineados. Essa capa é maravilhosa. A revisão também está bem boa. Se as folhas fossem amarelas, seria a edição perfeita.

Ficha Técnica...

Título: Memórias de uma Gueixa
Titulo original: Memoirs of a Geisha
Autor: Arthur Golden
Editora: Imago
460 páginas
Ano 2016
Nota: 3.5
Nota no Skoob: 4.4

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Concluindo: Uma história envolvente que vai te transportar pro Japão, para dentro de um oukia, para a vida dessas jovens moças.

Quem mais já teve a chance de se apaixonar pela história de Sayuri? Me conta o que achou desse livro maravilhoso. Vamos bater um papo. E se ainda não leu, me conta o que você sabe sobre Gueixas. Um beijo e até a próxima.

2 comentários:

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